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A OPA

Nas economias de mercado, o valor é gerado não só quando se produz algo mas também quando algo se troca. Vejamos o que acontece quando o Sr. João compra uma laranja ao Sr. José por 30 cêntimos. O Sr. João fica a ganhar: estaria disposto a pagar até 50 cêntimos, pelo que recebe um ganho líquido de 20. O Sr. José também fica a ganhar: a laranja custou-lhe 10 cêntimos, pelo que recebe um lucro de 20.

As empresas não são peças de fruta, mas o mesmo princípio é válido: se as acções da empresa X valem mais para o Sr. João do que para o Sr. José, é perfeitamente possível que cheguem a um acordo tal que ambos ganhem. Ganha o Sr. João, ganha o Sr. José, ganha o País.

É verdade que muitas vezes a compra de empresas reflecte mais o desejo de criar “impérios pessoais” do que propriamente aumentar o valor. Também é verdade que as expectativas do comprador são frequentemente mais optimistas que a realidade. Mas estas considerações não nos devem fazer perder de vista a ideia fundamental: a economia de mercado não é um jogo de soma nula; as transacções geram valor.

Vem isto a propósito, claro está, da OPA da PT. Nos jornais e na televisão multiplicam-se as análises dos jogos de poder; dos interesses nacionais e estrangeiros; dos motivos pessoais; e de todos os outros factores que levaram à oferta e às reacções à oferta. É algo surpreendente que, entre tantos comentários e análises, raramente se refira o que, para um economista, é a primeira e mais óbvia explicação: que Belmiro e Paulo Azevedo consideram deficiente a qualidade da gestão ou a qualidade das decisões estratégicas da PT (ou ambas); e que, com ou sem razão, pensam que poderão tirar maior valor da PT do que esta tem conseguido até agora.

Qual a fonte de valor acrescentado pela mudança de propriedade? Ver-se livre de uma “golden share” que estorva mais do que ajuda? Racionalizar investimentos de rentabilidade duvidosa? Em certo sentido, isso pouco importa: o facto de a Sonae estar disposta a pagar mais que o actual valor da PT significa que, provavelmente, a compra implica um acréscimo de valor.

Assim, enquanto os jornalistas rejubilam com a animação mediática criada pela operação; enquanto os políticos – preocupados com a fuga de centros de decisão – descansam no patriotismo do potencial comprador; eu, da minha parte, alegro-me com o aumento de riqueza nacional que esta OPA poderá representar.

Sim, porque as compras de empresas geram riqueza.
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