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Neo-proteccionismo

Quando primeiro estudei comércio internacional (na Católica, nalgum ano entre 78 e 83), uma das ideias mestras visava as origens e as consequências do proteccionismo. Cada país, individualmente, consegue aumentar a riqueza através da criação de barreiras à importação. O problema é que, se todos fazem o mesmo, acabamos numa situação que é pior para todos. Por outras palavras, o comércio livre é uma solução ideal mas instável.

Esta era, então, a versão oficial. Até que um dia dois economistas fizeram o que os economistas nem sempre fazem: olhar para a realidade com atenção. E concluiram que muitas das medidas de proteccionismo comercial não são motivadas pelo interesse do país mas sim pelo interesse de um sector concreto, devidamente representado pelo seu lóbi. O título do trabalho de Grossman e Helpman diz tudo: “Protection for Sale”.

Consideremos o exemplo da indústria do aço nos E.U.A. Graças ao presidente Bush (e outros presidentes antes dele), o sector beneficia de elevadas barreiras à importação. Várias estimativas mostram que o custo para a economia americana – nomeadamente para os consumidores de aço – é várias vezes superior ao benefício recebido pelos trabalhadores do aço. Como se justifica então que os E.U.A. abracem uma medida que efectivamente tira dinheiro ao país?

Não faltam as teorias económicas que explicam como o proteccionismo pode aumentar a riqueza nacional. Mas quando olhamos para casos concretos somos quase sempre levados à mesma resposta: “protection for sale”.

Nestes dias, fala-se muito de proteccionismo no espaço europeu; não o proteccionismo às trocas comerciais (aqui o mercado é essencialmente livre), mas sim o proteccionismo aos movimentos de capital, nomeadamente a compra de empresas. A Espanha, a França e outros países tentam a todo o custo impedir a aquisição por estrangeiros dos seus campeões nacionais. Vale tudo, desde a intervenção económica à intervenção legal.

Também aqui não faltam as teorias justificativas, demonstrações “científicas” de que a compra por estrangeiros leva a uma perda de riqueza nacional. No caso da Endesa, por exemplo, teme-se que a compra pela E.On ponha em causa o abastecimento de electricidade em Espanha. De uma forma geral, a expressão “motivos estratégicos” é tão frequentemente invocada como raramente explicada; e quando explicada, o argumento carece solidez.

Perante tudo isto é impossível evitar a questão de antes: será este proteccionismo realmente uma forma de aumentar a riqueza nacional?
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