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O MIT da Europa

Mais de 100 membros do Parlamento Europeu, dando seguimento a uma ideia do Presidente da UE, propuseram a criação, em Estrasburgo, do Instituto Europeu de Tecnologia. A ideia é de, com o “MIT da Europa”, terminar a fuga de cérebros europeus para os Estados Unidos. (O outro coelho a matar com a mesma machadada seria o aproveitamento das instalações do parlamento, libertadas pela passagem do mesmo para Bruxelas.)

Na semana passada, a Comissão Europeia anunciou os seus planos para a criação do Instituto, revelando também que o investimento inicial será entre 1 e 2 mil milhões de euros. (No entanto, nada foi dito relativamente à localização do Euro-MIT.)

Com o devido respeito pelo Presidente Durão Barroso e por todos os que estão por trás destes planos, penso que esta não é a solução certa.

Os Estados Unidos são indiscutivelmente a maior potência mundial no campo da investigação cinetífica e tecnológica. É verdade que o Reino Unido e outros países europeus continuam dando grandes contributos, mas basta olhar para as estatísticas dos prémios Nobel ou os “rankings” das diversas universidades em quase todas as áreas para verificar a concentração de talento activo nos E.U. Não se trata de um caso de maior aptidão por parte dos norte-americanos; é o “sistema” que funciona melhor, criando condições que atraem pessoas de todo o mundo. Por exemplo, nas últimas semanas o meu departamento ofereceu emprego a 12 professores. Entre estes, 7 são europeus e apenas 2 são norte-americanos.

O que faz os Estados Unidos a grande potência de investigação não é só o MIT: é Stanford, Caltech, Berkeley, Harvard, Princeton, Chicago, etc; isto é, todo um conjunto de “MITs” que, concorrendo entre si, criam um sistema de fortes incentivos para os investigadores: mais recursos para investigação, salários mais altos – e a satisfação de ser apreciado.

Na grande maioria das universidades, o salário de cada professor é revisto anualmente com base no seu contributo durantes os anos mais recentes. Mas os maiores ajustamentos nos salários correspondem a ofertas de emprego de universidades concorrentes. Este sistema, com todos os defeitos que se podem apontar, tem uma vantagem: mesmo os professores com lugar no quadro têm um grande incentivo para continuar contribuindo para o ensino e investigação.

Em lugar de criar o tal MIT da Europa, melhorem-se as condições para a mobilidade entre universidades; e aumente-se o financiamento competitivo das universidades existentes. Desta forma, teremos mais do que o MIT da Europa: teremos vários MITs da Europa.
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