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A falácia da média

Diz-se, e com razão, que a produtividade média das empresas portuguesas é muito inferior à das empresas europeias. O relatório “Portugal 2010”, elaborado pela McKinsey, afirma que o nível médio de produtividade em Portugal é aproximadamente 50% do nível médio da Alemanha, França, Itália, Holanda e Bélgica.

Mas a média é um conceito perigoso. Se eu tiver os pés no forno e a cabeça no congelador poderei afirmar que a temperatura média do meu corpo é de 20 graus; mas tal afirmação seria tão inútil e enganadora quanto matematicamente exacta.

Estudos recentes sugerem que, em cada sector económico, o nível de produtividade varia muito significativamente. Concretamente, se o nível médio for de 100, então cerca de um terço das empresas têm produtividade abaixo de metade da média; e mais de 10% têm produtividade acima do dobro da média.

Voltando à comparação entre Portugal e a Europa. Se o número da McKinsey é correcto e as minhas “contas de guardanapo” são uma boa aproximação, estimo que mais de 10% das empresas portuguesas estejam acima da média dos cinco países acima indicados; e mais de 20% acima da mediana. Por outras palavras: as empresas portuguesas com excelente nível de produtividade não são uma excepção.

Isto tem duas implicações. Em primeiro lugar, dizer que as empresas portuguesas são pouco produtivas é uma generalização injusta para com as 20 ou 25% mais produtivas, que não estão nada mal. Em segundo lugar, os dados sugerem que uma das linhas de política micro-económica mais importantes consiste em criar condições básicas para que as empresas melhores prosperem: a transparência no processo da concorrência.
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