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O exemplo da eBay

A eBay é o maior mercado da Internet. Embora tenha começado nos E.U.A., conta actualmente com mais de 100 milhões de utentes espalhados pelo mundo (na Europa, a eBay encontra-se principalmente na Inglaterra, França e Alemanha). Milhões de objectos são vendidos diariamente através da eBay; em 2004, o volume de transacções foi cerca de 30 mil milhões de euros.

A empresa eBay assume um papel mínimo nestas transacções, limitando-se a criar um sítio (ebay.com) onde vendedores e compradores se encontram. Cada comprador paga o montante devido ao vendedor, e este seguidamente envia por correio o produto respectivo. O comprador sabe muito pouco sobre a identidade do vendedor: o nome de utilizador, que pode ser algo como “jack555”, e pouco mais.

Durante os primeiros anos da eBay, vários economistas (incluindo o autor destas linhas) não esconderam o seu cepticismo relativamente a este tipo de negócio. Para além de ursos de peluche e outros objectos de baixo valor monetário, quem vai enviar dinheiro para uma pessoa que não conhece?

Quem pensou assim errou; e quem comprou acções na eBay.com no início fez um dos melhores negócios das últimas décadas.

A chave do mistério está no sistema de comentários criado pela eBay. Após cada transacção, o comprador tem a oportunidade de classificar o vendedor (positivo, neutro, negativo); e a eBay apresenta, para cada vendedor, a lista de classificações anteriores. Assim, para além do nome “jack555”, o comprador fica sabendo qual o grau de satisfação dos compradores anteriores.

Embora o sistema não seja perfeito, a frequência de casos fraudulentos não é superior à de um negócio “normal”. O nível de confiança é notável: são comuns transacções de centenas de euros.

Quando falamos de confiança no mercado não nos referimos a confiança numa entidade abstracta como a “mão invisível” de Adam Smith; falamos sim de confiança nas pessoas, nomeadamente na capacidade de discernimento do consumidor. O exemplo da eBay.com mostra como, criando mecanismos relativamente simples de divulgação de informação, as escolhas do consumidor exercem um papel regulador muito eficiente.
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