Despesismo

Tornou-se um lugar comum afirmar que o nível da despesa pública é excessivo. Esta observação não é recente nem restrita ao nosso país. Como é que chegámos a esta situação? Haverá certamente várias causas, mas vale a pena realçar uma: o problema da "concentração dos benefícios e diluição dos custos". O problema é que normalmente os benefícios de uma despesa pública estão concentrados num grupo reduzido de agentes, enquanto que os custos estão dispersos por um vasto grupo de contribuintes.

Explico com um exemplo. Se eu for adepto do União de Lamas e o governo propuser construir um estádio novo, claro que serei favorável ao projecto. É verdade que terei de pagar mais impostos para cobrir o acréscimo da despesa governamental. Mas tratando-se de uma despesa dividida por milhões de contribuintes, para mim trata-se apenas de meia dúzia de Euros. 100 milhões de Euros já dariam para uma boa obra, e se eu for um contribuinte médio isso corresponde a um imposto adicional de 10 Euros, menos que um bilhete para um jogo de futebol.

Claro que este estádio não seria o único caso, e o adepto do União de Lamas acabaria por pagar uma montanha de impostos: entre estádios de futebol e outros projectos de interesses especiais, no final já seria mais do que meia dúzia de euros por contribuinte.

Embora o caso do União de Lamas seja apenas uma situação hipotética, o problema da concentração dos benefícios e diluição dos custos é um problema real e frequente. E infelizmente o sistema não resolve o desequilíbrio fundamental: os beneficários da despesa pública têm grande interesse em organizar-se como "lobby"; mas ninguém fala em nome da maioria silenciosa dos pequenos contribuintes que financiam o depesismo.

Este é um dos grandes dilemas da democracia (tal como a conhecemos): no momento de ir às urnas, o povo é quem mais ordena; mas no dia-a-dia das decisões governamentais, o contribuinte sofre a ditadura dos interesses especiais.
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