Para quem parte desta premissa, é grande a surpresa ao conhecer os números do inquérito às famílias realizado pelo INE em 2003. Os cerca de 10 mil entrevistados responderam a perguntas sobre o número de anos de escolaridade, área de estudo, idade, vencimento mensal, bem como outras questões.
Uma análise sumária dos dados encontra-se num artigo do Professor Pedro Portugal no Boletim Económico do Banco de Portugal (Março de 2004). Os resultados são bem elucidativos. Como seria de esperar, os salários tendem a subir com a idade. Mas a correlação mais significativa é entre nível de educação e salário: portugueses com um curso superior ganham em média mais 63.1 por cento que os conterrâneos com ensino secundário apenas. Esta é a maior diferença entre todos os países europeus (a menor, na Dinamarca, é de 19.2 por cento).
Relativamente à taxa de emprego, o padrão é semelhante: a taxa de desemprego de portugueses com curso superior é um ou dois pontos percentuais menor que a taxa dos que têm ensino secundário ou primário.
Deve-se olhar para estes resultados com algum cuidado. Os inquiridos têm idades aproximadamente entre os 20 e os 70 anos, pelo que muitos obtiveram a licenciatura há bastantes anos. Por outro lado, a correlação entre salário e nível de educação não é uniforme. Por exemplo, licenciados em arte e design ganham em média metade dos licenciados em engenharia electrotécnica.
Particularmente importante é a ressalva de que as correlações são consistentes com várias interpretações possíveis. No entanto, estudos para outros países baseados em gémeos idênticos mas com níveis de educação diferentes sugerem que se verifica efectivamente um efeito de causalidade: um curso superior melhora significativamente a posição económica e social.
Assim, os rumores de que o ensino superior não tem valor económico são no mínimo exagerados.
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