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Agentes de imobiliário e farmácias

Nos Estados Unidos, a Associação de Agentes de Imobiliário (a “National Association of Realtors”) detém um poder extraordinário. Os agentes de imobiliário, membros da N.A.R., cobram taxas entre 5 e 7 por cento. No ano passado, receberam mais de 60 mil milhões de dólares em comissões. O americano médio paga cerca de 10 mil dólares para vender uma casa, um valor suficiente para comprar um carro novo.

Com taxas tão elevadas, fruto de um acordo tácito (?) entre os agentes, não admira que muitos queiram entrar no esquema. Desde há vários anos que o sector bancário tem tentado isso mesmo. Mas a N.A.R., que gasta cerca de 100 milhões de dólares por ano em actividades de lóbi, conseguiu convencer o Congresso Americano a adiar a abertura do mercado. De facto, em 2006 os bancos ainda não conseguiram passar a barreira proteccionista da N.A.R.

No ano passado, e depois de meses de negociações infrutíferas, o Ministério da Justiça (“Department of Justice”) acusou a N.A.R. de uma série de práticas abusivas. Será este o golpe mortal no cartel dos agentes imobiliários? Muitos dizem que, mais do que a lei, a Internet é a solução. Em Madison (Wisconsin), uma organização de venda de imobiliário pelos próprios donos cobra apenas 150 dólares pelo direito de listar uma casa – uma pequena fracção dos milhares de dólares pagos a um agente “oficial”. No ano passado, quase 1500 casas foram vendidas neste novo site.

Os agentes imobiliários reagem dizendo que FSBO (“for sale by owner”) não é um bom substituto; que os agentes têm um papel fundamental na apresentação de propriedades, na negociação do preço, no preenchimento dos impressos necessários, etc. “Nós fazemos um bom trabalho e merecemos os 6 ou 7 por cento”, dizem.

Não deixa de ser interessante o paralelismo entre a N.R.A. nos Estados Unidos e a A.N.F. em Portugal. Quando existem rendas artificialmente criadas (ou por cartel ou por decreto governamental), não é de estranhar que outros tentem ficar com uma fatia do bolo. E não é de estranhar que os donos do bolo tudo façam para manter o status quo, guerreando no campo do lóbi, no campo legal e no campo da opinião pública: já pensaram nos perigos de vender uma casa directamente ou – horror dos horrores! – comprar uma aspirina num supermercado?
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